Índia – Uma experiência!

Eu não tive coragem de incluir a Índia na minha passagem de volta ao mundo. Eu tinha um desejo enorme de conhecer o país, mas o meu medo (o Tobi sempre presente) era enorme na mesma proporção. Muita gente tinha me falado que é perigoso mulher viajar sozinha na Índia, que é um lugar sujo, que as pessoas fazem cocô na rua, que tem vaca para todo lado e por aí vai. Então, resolvi deixar a Índia de fora da passagem e ficaria como opção. Se eu decidisse ir, compraria um ticket a parte.

Eu e o Gui conversamos sobre a possibilidade de irmos juntos, assim eu não seria uma mulher viajando sozinha na Índia, mas mesmo assim o Tobi continuava presente e dizia, “não vai”, “não vai”. Mas como sou teimosa, falei “vou sim”. Para fazer esta viagem, eu deixei um pouco de lado o estilo mochileira independente e acabei fazendo um tour. Pesquisei um monte, li milhares de comentários, e optei por um tour de 15 dias com uma empresa australiana que se chama Intrepid (super recomendo), e posso falar que foi uma das melhores decisões desta viagem, mesmo gastando muito (muito) mais do que previsto inicialmente no orçamento.

O que eu posso dizer é que a Índia é uma experiência. Não sei se boa ou ruim, tudo vai depender do quanto o seu coração vai estar aberto para tamanho choque cultural. E nos meus primeiros dias por lá, foi bem difícil.

Não sou de país de primeiro mundo e achava que eu já tinha visto muita pobreza na minha vida. Mas estava completamente enganada. Estava no trem entre Delhi e Agra, sentada na janelinha e, de repente, vi uma pessoa fazendo suas necessidades pessoais ao ar livre. Ok, normal, pensei. Depois vi mais uma, e mais uma e mais uma, acho que vi umas 50 no total. Chocante. Olhei para a janela do lado oposto do trem e estávamos passando por uma região bem pobre que depois fui descobrir que apenas 30% das pessoas naquela região possuem banheiro em casa, os outros 70% usam o espaço público, ao ar livre.

A cidade onde fica o Taj Mahal, Agra, é uma das cidades com maior número de leprosos na Índia. Tinha muita gente com aquelas deformidades no corpo que a gente vê sendo compartilhada nas redes sociais e acha que é mentira. Muita gente lutando para sobreviver, seja se estapeando entre si para conseguir colocar um turista no seu tuk tuk, seja pedindo dinheiro. Neste último caso, são muitas mães com bebês peladinhos no colo, idosos, e muitas crianças.

A sujeira das crianças é algo que me chocava. Com um olhar mais apurado, era possível ver aqueles bonitos olhos indianos atrás da roupa e da carinha suja. Nunca mais vou esquecer uns rostinhos que vi na estação de trem em Agra. Eu repensei tanta coisa, acho que todos os problemas que já tive na minha vida juntos são um cisco do lado daquela montanha de sofrimento.

É claro que eu preferia falar aqui que as minhas primeiras impressões foram relacionadas a uma das melhores comidas que já provei na vida (apaixonada pela culinária indiana), das lindas cerimônias de casamento que vi pelas ruas, das indianas coloridas, combinando rosa choque, verde e laranja de forma deslumbrante. Seria bem mais bonito falar que eu consegui ver o belo diante de tanta pobreza. Me desculpem, mas de início, eu não consegui.

Vi gente sofrida demais, que te pedia até sua garrafa de água mineral. Gente que faz suas necessidades na rua por que não tem banheiro. Falta dignidade humana. Se eu já tinha um carinho pela Índia sem nunca ter pisado por suas terras, meu carinho só aumentou. O guia que me acompanhou nestes dias de viagem me disse que a Índia tem um atual primeiro ministro diferenciado e que já está mudando muitas coisas por lá, e que inclusive a condição de vida de muita gente já melhorou. Não consigo julgar o quanto é real ou não, mas vi uma chama de esperança acessa, que com certeza é o principal combustível para continuar nesta luta.

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O relato sobre a Índia está dividido em alguns posts. Para compreender minha passagem por lá é importante a leitura de todos os textos, já que tudo foi mudando conforme fui me adaptando ao lugar,  abrindo a cada dia mais o meu ângulo de visão e principalmente o meu coração. Daqui uns dias, publicarei a parte II.

10 Comments Índia – Uma experiência!

  1. Dri Salles 21 de março de 2016 at 11:46

    É Ca! A Índia e uma capítulo a parte em qualquer viagem. Não é um país fácil de se visitar, e você fica chocado em vários momentos. É um país que nos faz pensar muito sobre nossa existência e sobre os nosso “problemas”. Por outro lado, acho que não há nenhum lugar como a Índia, ela é diferente de tudo!
    Estou adorando! Quero ler mais, hehehehe (a ansiosa!)! Beijos

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    1. Camilla Albani 29 de março de 2016 at 01:38

      Dri, já te falei isso, mas depois de visitar a India e saber que vc e o Manu viajaram sozinhos por lá, vcs ganharam muitas estrelinhas no quesito viajantes aventureiros! 🙂 Só aumentou minha admiração por vcs! Beijos

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  2. Daniela 21 de março de 2016 at 13:06

    Incrível tudo isso… Não conhecia, estou aguardando ansiosa a parte 2

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    1. Camilla Albani 29 de março de 2016 at 01:37

      já está saindo…com certeza a Índia é incrível e eu quero voltar!

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  3. Bia Alves 23 de março de 2016 at 23:48

    Eu não tenho vergonha de falar que nos 3 primeiros dias chorei muito e pelo skype quando conseguia conexão chorava pra minha mãe: mamaaa pq eu vim pra ca? Sou louca! Nao vou aguentar. Nao tive chuveiro em 3 semanas, só dormi em saco de dormir, simmm rolou piriri mas foi a experiencia mais enriquecedora de toda minha vida! Mais posts pleaseeee! Beijao! <3

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    1. Camilla Albani 29 de março de 2016 at 01:36

      Bia, te entendo completamente agora…é uma coisa que só dá para entender estando lá…eu viajei na categoria confort e já achei um pouco difícil, imagino vc…aliás, quando voltar quero sentar contigo e saber mais dessa experiência. Beijo Grande, já está saindo o segundo post.

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  4. Luciano 29 de março de 2016 at 05:00

    Oi Cá… E quanto a problemas com a higienização dos alimentos? Dizem que tem muitos ratos nos templos… E que os homens convivem com eles normalmente… E o rio Gandhi muito. Poluído? Tomou banho lá? Imagino que deve ser difícil mochilar por lá.. Baita experiência… Nesse tour já tem hospedagem e é boa?

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    1. Camilla Albani 29 de março de 2016 at 12:46

      oiii olha, eu não vi nenhum rato! rs vc tem q saber onde comer…o que é difícil, pq os lugares não são muito arrumadinhos então se eu fosse escolher sozinha acho que não comeria em mais da metade dos lugares onde comi. Mas como estava com o guia, ele falava onde dava para comer e tal (mas não pode ter frescura!)…O rio ganges é poluído mas se vc navegar tipo uma hora chega numa parte mais limpa. Nós fizemos isso e meus amigos nadaram no rio, mas eu só molhei os pés…As hospedagens eram boas sim, melhor do que eu imaginava! Beijos

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  5. Luciano 29 de março de 2016 at 05:08

    Com toda essa situação , machismo, pobreza, falta higiene e condições sanitárias… Porque a índia desperta tanto a imaginação das mulheres e homens aqui no Brasil em Cá?

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    1. Camilla Albani 29 de março de 2016 at 12:43

      Oie! Sabe que também me pergunto isso? hehehe acho que é por ser um lugar diferente de tudo que a gente já viu…é a beleza diante do caos…rs…

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