20 dias de Austrália e as Primeiras Percepções

Essa semana me dei conta que eu nunca tinha ficado tanto tempo num país de “primeiro mundo”, ou como definiu Kofi Annan, antigo Secretário-Geral das Nações Unidas, “país desenvolvido é aquele que permite que todos os cidadãos desfrutem de uma vida livre e saudável em um ambiente seguro”. (Pois é, ambiente seguro, lugar inexistente no Brasil mesmo dentro da sua própria casa.)

Hoje faz 20 dias que estou na Austrália, que em 2013 ocupava o 2º lugar no ranking de países desenvolvidos, atrás apenas da Noruega (fonte ONU). Visitei lugares maravilhosos, praias lindíssimas, com tons de azul capazes de me hipnotizar, muitos parques espalhados pelas cidades, tão bem cuidados, que as vezes sou capaz de jurar que o Edward Mãos de Tesoura mora por aqui.

Entretanto, o que realmente tem chamado minha atenção é como a sociedade se organiza e as pessoas se relacionam.

Na minha opinião, a espinha dorsal de tudo que eu vou tentar descrever a seguir se baseia numa sociedade com uma desigualdade social infinitamente menor do que no Brasil e uma educação de qualidade para todos. As diferenças salariais não são abissais,  o país tem um dos maiores salário mínimo do mundo. Dessa maneira,  mesmo uma pessoa considerada rica raramente vai ter alguém trabalhando na sua casa como empregado o mês inteiro. Pelo que eu pesquisei, o que estas pessoas podem ter é alguém que limpe sua casa por 3 horas a cada 2 semanas. Ou seja, aqui TODO MUNDO, não importa se é rico ou pobre, lava sua roupa, limpa sua privada, recolhe seu lixo e faz sua comida. Pode parecer besteira, mas estas coisas mudam muito a maneira como as pessoas vivem e se relacionam. Darei alguns exemplos vivenciados.

Semana passada eu fui trabalhar de voluntária num evento em troca de poder participar do mesmo sem pagar. Chegando lá, primeira coisa que me pediram para fazer foi carregar umas cadeiras de uma sala para outra, fiz muito trabalho braçal e no começo confesso que me senti bem estranha, tipo “euuu, ficar carregando cadeiras?”. Enfim, enquanto estou lá carregando cadeiras, chega o presidente da instituição, paramos para as apresentações e eis que ele tira o casaco e começa a me ajudar na tarefa de carregar as cadeiras. Eu quase caio, eu e as cadeiras. Demorei para entender, mas fui percebendo que aqui é diferente, você não é menos por que seu trabalho é classificado como inferior. As pessoas realmente se tratam como iguais e não existe esta coisa de “isso eu faço, isso eu não faço”.

Outra exemplo, no taxi ninguém senta no banco de trás. Senta-se do lado do motorista. Achei, no mínimo, curioso.

A educação das pessoas também me impressiona. Em Melbourne, o transporte público principal são os trams, tipo aqueles bondinhos ligados na eletricidade, mas aqui tem uns bem modernos que parecem um metrô. Nos trams não tem cobrador, você precisa possuir um cartão e passar numa máquina quando entra no vagão. Fico observando no meu caminho da escola, todo mundo passa o tal cartão, mesmo sem ninguém ali vigiando o tempo todo. Inspetores podem entrar no trem a qualquer momento e checar se você passou o cartão ou não. É claroooo que sempre vai ter o espertinho, mas é minoria. Mesmo quando o tram está cheio, ninguém, absolutamente ninguém, tenta entrar sem antes esperar todas as pessoas descerem. É educação, é respeito, é bem legal.

Sobre a questão de não ter medo de ser assaltada, poder olhar o celular no meio da rua ou abrir o notebook no meio de um parque, não tenho nem o que comentar. É uma sensação de liberdade indescritível.

Sabemos que nenhum dos exemplos anteriores acontece no Brasil. E sei que daria para escrever uma dissertação de mestrado sobre este assunto, suas causas, raízes, justificativas, etc, etc. Mas eu não tenho grandes pretensões, quero apenas contar que é esta parte que eu mais estou gostando aqui da Austrália, estou achando bem lindo de ver e viver tudo isso de perto.

P.S. Este tram da foto, o 67 Carnegie, é o que eu pego todos os dias para voltar da city para casa.

8 Comments 20 dias de Austrália e as Primeiras Percepções

  1. Sebastião Correa 12 de outubro de 2015 at 11:18

    Creio que fisicamente perdemos a amiga , pois pela sua narrativa o contraste entre o nosso País e o que você vem vivenciando é o divisor. Agora a realidade brasileira tem como base o cidadão que aqui reside e é esse o diferencial.

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    1. Camilla Albani 13 de outubro de 2015 at 05:25

      por enquanto perdeu não…
      mas eu moraria fácil, fácil….
      beijos

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  2. Artur 12 de outubro de 2015 at 21:20

    Camila, essas percepções são bem similares com as que tive quando cheguei aqui no ano passado. Tinha morado 8 anos em São Paulo e passei a acreditar que cidade grande era sinônimo de tráfico, crimes, stress, desigualdade, etc… No entanto, Melbourne inverte todos esses valores e consegue nos impressionar ao mostrar que é possível ter alta qualidade de vida morando em um ‘grande’ centro. Eu amo aqui.

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    1. Camilla Albani 13 de outubro de 2015 at 06:21

      eu também estou amando.
      cidade maravilhosa e ainda promove encontros maravilhosos como o nosso 🙂
      beijos

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      1. a 14 de outubro de 2015 at 10:20

        Camilla, bom dia!
        Como tenho te acompanhado (virei fã anonima, hem?!) Sei que está começando sua viagem agora… tenho sonho de largar e viajar como você… “sem rumo”. Já viajei para 9 paises sempre de férias, onde tudo é magica + sempre pacotes, aqueles tours programados, sabe? Cansei… você anda me motivando a fazer o que + gosto, porém agora de mala e cuia. Só. Não esqueça de nós aqui… ansiosa para o próximo post. bj Boa viagem. Esteja com luz sempre!

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        1. Camilla Albani 16 de outubro de 2015 at 18:06

          nossa, eu tenho uma fã anônima! tô curiosa!!! rs
          fico muito feliz se o blog e minha estória estão te inspirando um pouquinho…este é o maior propósito do Asas&Raizes!
          então, eu acho que viajar de pacote acaba tirando alguns aprendizados da viagem…que é vc descobrir as coisas sozinhas,as vezes se perder durante uma caminhada e de repente se achar num lugar maravilhoso que vc nem tinha visto nos “guias”…acontece isso comigo toda hora! rs
          pode deixar que estarei sem atualizando as peripécias da viagem por aqui 🙂
          beijo grande para a fã anônima
          Camis

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  3. Tico 18 de outubro de 2015 at 16:50

    Sensacional!
    Tempos atrás estive na Itália e notei esse mesmo tipo de situação nos transportes públicos!
    Acho incrível quando algumas pessoas não concordam quando digo que NADA no Brasil funciona… Dá vergonha!
    Amiga… Sei que suas asas fazem você voar mas suas raízes te “prendem” aqui!
    Quando terminar essa sua experiência formidável de descobrir o mundo, pegue o restante aqui no Brasil e procure um país como este para viver… Vc não merece menos que isso! Merece só coisas boas!
    Estou adorando seus posts!
    Beijos e muita saudade!

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    1. Camilla Albani 19 de outubro de 2015 at 00:25

      obrigada, que bom que está curtindo o blog 🙂
      hoje penso mais em como contribuir para o Brasil ser um lugar melhor do que arrumar minha mala e zarpar (apesar de algumas vezes esta opção me parecer lógica)…mas realmente as diferenças são mais que chocantes, eu me surpreendo a cada dia aqui como tudo funciona, fico até com inveja…
      bjus

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