Espelho, Espelho Meu

E já é Feliz Ano Novo!

2015 foi o ano mais louco da minha vida, foi o ano que tive a coragem de soltar as amarras do meu mundinho seguro e confortável para me jogar neste mundão de verdade. Eu posso dizer que passei por muitas libertações, muitos desprendimentos. Casa, Carro, Emprego, Segurança Financeira, entre outras coisas. Mas tenho certeza que a maioria de vocês nem imagina qual foi minha MAIOR libertação de 2015.

Desde de 2007/2008, eu tenho um problema genético que se chama alopecia androgenética que é uma perda gradual dos cabelos, vai tornando os fios finos e ralos até deixar o couro cabeludo a mostra, é popularmente conhecido como calvície feminina. Existem mil tratamentos para tentar estagnar o processo, fiz inúmeros deles, mas o que domina  é seu estado emocional. Muitas vezes estava indo tudo bem com o tratamento, medicações, e era só eu passar por algum problema emocional que os cabelos voltavam a despencar. O gatilho para o início do meu problema foi a fase terminal do meu pai.

Acho muito difícil escrever sobre isso, pois não sei se é possível transcrever a tristeza que é perder seus cabelos, principalmente para uma mulher. Penso que muitas pessoas podem ler isso e pensar, mas que besteira, não é uma doença grave, um câncer ou outra coisa do tipo, é só um efeito estético. Mas acredite em mim, dói demais perder os cabelos. A cada manhã que eu olhava os fios no meu travesseiro, no ralo do banheiro, nas minhas roupas, esta ferida ardia no meu peito. Acho que é um dos problemas que mais afeta a auto estima de uma mulher, eu cansei de chorar em frente ao espelho ou de desistir de sair de casa por estar me sentindo horrível.

Passei anos e anos tentando esconder meu problema, não gostava nem de falar a respeito. Usava produtos para tentar esconder as falhas, não entrava na piscina nem no mar.  Pois se com o cabelo seco eu já parecia careca, imagina molhado. E acho que até passava despercebida para a maioria das pessoas, mas o problema era o meu olhar. E quando me olhava no espelho, a primeira coisa que eu enxergava era o meu couro cabeludo brilhando embaixo dos fios ralos.

No ano de 2011, já cansada e desanimada de todos os tratamentos, tomei uma decisão muito importante. Resolvi colocar uma prótese capilar. Era algo de muita qualidade, com cabelos naturais, feita na Itália, que me custou o preço de um carro popular. Coloquei a prótese no final deste ano, o resultado foi muito satisfatório e eu logo pensei, estou livre! Eu podia lavar os cabelos normalmente, secar, nadar, era vida normal. Era libertação.

Mas com o passar do tempo, eu percebi que sai de uma prisão para entrar em outra, aparentemente mais bonita. Essa prótese era fixa e exigia uma manutenção todo mês, quando a mesma era removida e se fazia uma higienização absurda tanto nos cabelos quanto no couro cabeludo. E eu passei os primeiros anos sem ter coragem de me encarar no espelho quando estava sem a prótese, não tinha coragem de me ver careca. Aquele dia do mês machucava.

Sempre que eu pensava em ficar um tempo fora do Brasil e até mesmo fora de São Paulo, eu pensava nesta questão dos cabelos. É claro que eu até poderia buscar outros lugares para fazer a manutenção, mas por ser algo muito específico, caro, eu tinha certo receio. No início de 2014, eu comecei a me obrigar a me ver careca nos dias da manutenção, a Camilla de verdade era aquela ali, sem cabelos, e eu precisava me aceitar. Precisava encarar a realidade. E comecei a fazer isso, todo mês, até que teve um dia, eu tive um dos insights mais gostosos da minha vida. Me encarando no espelho, careca, sozinha na sala, eu me achei bonita sem os cabelos. Pude ver o brilho dos meus olhos, o contorno do meu nariz, minhas orelhas perfeitas, e achei a falta de cabelos era só um detalhe. Neste momento, uma emoção diferente correu nas minhas veias.

E a minha grande decisão para fazer a viagem de volta ao mundo foi que eu tiraria a prótese e iria com o que tinha sobrado dos meus cabelos. Lembro que quando alguém dizia que eu era corajosa por estar largando tudo para viajar o mundo, pensava comigo “e você nem imagina que eu ainda vou ter que ir careca”.

Tirei a prótese no dia 10 de setembro de 2015. Na véspera, tive diárreia e crise de enxaqueca. Uma amiga quis me acompanhar mas fiz questão de ir sozinha. Não sabia o que eu ia sentir, podia ser que depois eu quisesse entrar correndo num taxi e ir me trancar no quarto. Mas acordei tão firme naquele dia que em eu nem acreditei, acho que meu anjo da guarda me levou pelas mãos. Tirei a prótese na clínica, junto da equipe mais que especial que me acompanhou por estes anos de tratamento, pedi para cortar curtinho os cabelos que sobraram  e sai dali para passear no shopping, sentindo uma liberdade indescritível.

O  meu dia mais feliz foi o primeiro banho de mar sem os cabelos, na Nova Zelândia. Estava um pouco frio mas eu não via a hora de me jogar no mar e sair livre, leve e solta sem preocupações se alguém estaria olhando para minha falta de cabelos. Isso sim era libertação, ou superação.

Aqui na viagem é claro que eu tento tirar as fotos do meu melhor ângulo sem focar no problema, uso as minhas queridas faixas e também o produto para esconder um pouco as falhas. Mas não tenho problema algum em encarar qualquer um com meus cabelos molhados, com minha carequinha aparecendo. Eu sou muito mais do que isso. E este foi o maior presente que eu me dei em 2015.

Neste processo, eu aprendi tanta coisa, aprendi que ninguém no mundo, por mais que te ame, é capaz de sentir o que você está sentindo. A minha dor era só minha e só eu tive o poder de curá-la. Aprendi que quando alguém te trata mal, está mal humorado, devemos tentar relevar, pois nós nunca sabemos os dragões que cada um enfrenta dentro do peito. Aprendi que auto aceitação leva tempo e  que nós somos muitos mais que cabelos, bundas e peitos, pois se isso fosse tudo, talvez eu seria nada.

Então, minha mensagem de Feliz Ano Novo é que cada um de nós tenha coragem de enfrentar nossos dragões em cada um dos 365 dias que temos a seguir. Que a gente esteja sempre do nosso lado, em todos os momentos. E que saibamos viver mais o hoje e menos o ontem e o amanhã.

Beijos direto de Chiang Mai, na Tailândia, da carequinha mais feliz deste mundo! #vemnimi2016

28 Comments Espelho, Espelho Meu

  1. Tais 31 de dezembro de 2015 at 10:55

    Emocionante, chorando aqui, te admiro ainda mais por ter escrito! Aproveita muito! Feliz 2016 ❤️❤️

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:41

      Obrigada Tá! Me sentindo muito feliz com este fechamento de 2015. Um feliz ano novo para nós! Beijo Grande

      Reply
  2. Leonidas Moreira 31 de dezembro de 2015 at 11:23

    Camilla, um excelente 2016 para você e sua família!!! Você é admirável e a sua viagem e as suas mensagens são inspiradoras!!! Que nos seja possível entender sempre que a felicidade é um estado de espírito e que precisamos viver intensamente cada minuto e não podemos ser escravos de coisas…as pessoas devem ser o centro de tudo e o seu desprendimento e coragem tem nos propiciado mensagens belíssimas , além de cenários e paisagens incríveis… Boa sorte em sua caminhada e muita força!!!

    Abraços,

    Léo

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:47

      Oi Leo, muito muito obrigada pelas palavras.
      Sabe de uma coisa que eu SEMPRE que lembro quando penso em você? Quando eu fui trabalhar com você no planejamento financeiro da Ultracargo, um dia sentei em frente a sua mesa desesperada, por que a equipe quase toda tinha pedido demissão, mil relatórios atrasados e tal. E você apontou as baias onde eu sentava e falou assim “Calma, se precisar sentar lá e te ajudar a fazer os relatórios, eu vou”. Nunca precisou, mas saber que eu podia contar com você me ajudou demais a superar aquela fase. Eu nunca me esqueci disso e trouxe essa forma de liderar para a minha vida profissional e para as equipes que eu trabalhei depois. Muito obrigada! Te desejo um super 2016 também, para você e sua família, e vamos marcar um café quando eu voltar, temos muito papo! Beijos

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  3. Dani 31 de dezembro de 2015 at 11:40

    Camilla,

    Eu fui uma das pessoas que vc não pensou, mas disse a frase.

    Lindo texto, chorei e senti uma emoção muito forte em compreender a profundidade de tudo isso. Cada um lida com seus medos e ninguém pode julga-los. O mais bonito de tudo o que vc tem nos contado é a forma madura com que você tem mergulhado nas suas inseguranças e enfrentado de frente. Tenho muito o que aprender com você.

    Você é a pessoa mais linda que já conheci. Sua força e alegria de viver contagia todos.

    Lindo depoimento. Não canso de dizer que aquela menina medrosa que conheci cresceu e virou meu maior exemplo.

    Boa caminhada, minha amiga!

    Dani

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:49

      Dani, eu que tenho a maior alegria do mundo de ser sua amiga, amiga daquelas que a gente vai levar junto, até o final dessa estória que se chama VIDA. Beijo Grande e Abraço Apertado!

      Reply
  4. Marlucia Lobo 31 de dezembro de 2015 at 12:11

    Oi Camis, Q linda mensagem de coragem e superação. Quando sairá o livro da Camila Albani, quero ser a primeira na fila de
    Autógrafos. Continue escrevendo, vc o faz com muita leveza e inspiração .
    Obrigada pelas suas palavras Q tocou meu coração.
    Beijos e
    Um Feliz 2016!!

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:51

      Oi Má! Olha só esta estória do meu cabelo rendia um livro, viu? Obrigada por seu carinho, tenho saudades dos nossos papos do café do Ultra, como era bom. Feliz 2016 para você e sua família. Beijo Grande

      Reply
  5. Ana Carla 31 de dezembro de 2015 at 13:07

    E eu que já te admirava agora amo muito mais depois do último post do ano. Ah, Camilla o melhor presente que Deus nos dá são os amigos…

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:54

      Querida….que bom foi te conhecer! Quero muito marcar uma viagem com você quando eu voltar, uma das pessoas no mundo que gosta mais de viajar do que eu! rs ou melhor, você podia pegar uma dessas viagens e ir até Santos, assim papeamos e vc conhece minha família e minha cidade. Topa? Já coloca na agenda para 2016…e fica ligada que tem umas corridas lá também!!!! Bjs, Feliz 2016

      Reply
      1. Ana Carla 1 de janeiro de 2016 at 12:32

        Convite aceito. Temos muita coisa para conversar e eu tenho que conhecer a Ana que está no meu imaginário desde o Jalapão.

        Reply
  6. Andressa 31 de dezembro de 2015 at 13:45

    palmas palmas palmaaaaaaaaasssss amo te amiga irma e sinto um baita orgulho de tu. Cada vez mais…saudades. Feliz 2016, e que seja um ano de muitas outras superacoes e libertacoes pra todos.

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:55

      obrigada minha amiga, irmã, cumadre…também tenho saudades e muito orgulho de tu! beijo grande, beijo para meu afilhado lindo

      Reply
  7. Laura Campos 31 de dezembro de 2015 at 14:04

    Feliz ano novo, Cacá!!!
    Quando me lembro de você a primeira imagem que me vem é a tua meiguice, a tua inteligência!!
    2016 cheio de paz saúde e amor, que você seja imensamente feliz e continue a distribuir essa tua doçura impregnada de conhecimento e beleza.
    Amo vc linda!

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:58

      Ahhh Laurinha, eu achava que o que vc lembrava de mim era eu andando de camisola rasgada naquela pensão xexelenta que a gente morava em Sorocaba. hehehe ou minhas crise de choro…morro de saudades! Feliz 2016 para você também, recheado de coisas boas.

      Reply
  8. Chris Ferrari 31 de dezembro de 2015 at 15:39

    Feliz 2016 pra vc Ca!!! Sua história Eh linda, parabéns pela coragem de compartilhar com todos. Acompanho sempre seus posts e vc exala felicidade!!! Beijos!

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 05:58

      obrigada Chris. Feliz Ano Novo para nós!!! Super Beijo

      Reply
  9. Zilda 31 de dezembro de 2015 at 17:48

    Camis, diversas vezes declarei meu Amor por vc.
    Amiga, você é simplesmente demais
    ” super, master, blaster, plus”
    Linda por dentro e maravilhosa por fora.
    Saudade imensa.

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 06:00

      Guguinha do meu coração, você sabe que é para o seu colinho que eu corro quando o bicho pega, né? Obrigada por sempre me acalentar. Amo vc! Beijos

      Reply
  10. Angelin J. Beraldo 31 de dezembro de 2015 at 20:47

    Camilla, seu comentário exposição é maravilhoso. Revela sua grandeza humana e espiritual. Sem dúvidas, você tirou um peso de sua vida. Nós humanos, por natureza, valorizamos muito os detalhes e por eles deixamos de enxergar o principal que é a vida, os amigos, o amor ao próximo. Suas mensagens são claras e profundas. Faça uma coletânea para futura publicação. Já sou seu fã de carteirinha. Bjs

    Reply
    1. Camilla Albani 1 de janeiro de 2016 at 06:01

      Obrigada pelas palavras e pelo carinho, Angelin! Com certeza a magia da vida é o AMOR que podemos sentir uns pelos outros. Feliz Ano Novo, cheio de saúde, paz e amor.

      Reply
  11. Debora 2 de janeiro de 2016 at 11:52

    Kémilly!!!! Wow!!!! Nao imaginava, nem suspeitava. Conheço bem esta condição, minha melhor amiga aqui nos States nasceu com alopecia. Passou por varias tristezas ao crescer, adolescencia. Mas hoje se aceita e é feliz e prosperando muito em todas as areas da vida.
    Vc é e sempre foi linda, por dentro e por fora, e admiro demais sua forma de encarar a vida, obstaculos e oportunidades.
    Mil beijos! Feliz 2016! E vou continuar stalking you online

    Reply
    1. Camilla Albani 4 de janeiro de 2016 at 08:58

      é amiga, a gente nem imagina os dragões de cada um né? mas graças a Deus eu estou bem resolvida neste quesito e muito feliz. beijos, beijos

      Reply
  12. Michele 6 de janeiro de 2016 at 14:12

    Camis!!! Linda mensagem, ver a sua libertação é inspirador! Soltar as amarras mesmo que invisíveis e que muitas vezes são mais fortes do que as físicas não é fácil … Só o autoconhecimento faz isso! Te adoro e estou com muitas saudades! Bjao Mi

    Reply
    1. Camilla Albani 12 de janeiro de 2016 at 09:11

      é Mi, este dragão já era, mas ainda tenho muiitooos outros para lidar 🙂 também te adoro demais, muitas saudades! beijos!

      Reply
  13. Gisella 1 de junho de 2016 at 21:27

    Camilla, li seu post também na revista “Vida Simples”, você não consegue imaginar o quanto o meu processo é similar ao seu. A zona de conforto, o trabalho corporativa e os cabelos, no meu caso, os brancos…..a aceitação, a libertação e agora….. ainda não sei, pois o novo está por vir.
    De qualquer forma, uma agradável surpresa encontrar alguém com uma narrativa que trocando algumas passagens, poderia ser minha….

    Tudo de bom pra você.

    Reply
    1. Camilla Albani 12 de junho de 2016 at 13:43

      Oi Gisella! Realmente enfrentar o mundo de fora com os cabelos caindo é muito difícil…mas primeiro a gente tem que acertar esta questão com o mundo de dentro (que também é complicado, leva tempo e não tem manual, cada um é de um jeito!) Tudo de bom para vc também! Qualquer coisa que eu puder ajudar, estou por aqui! 😉

      Reply
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