O Desvendar do (Auto) Amor – 9 meses

Depois de muito sentir,  sofrer e pensar, eu cheguei a conclusão que o maior desafio nas nossas vidas é como nos relacionamos com as pessoas, família, amigos,  colegas de trabalho e claro, nossas relações amorosas, que para mim está no topo da complexidade.
Eu li um livro alguns anos atrás que me marcou demais. O autor é Bob Hoffman e o livro se chama O Desvendar do Amor. Ele diz que cada um de nós possui dentro de si um cálice de amor e que só conseguimos sentir amor incondicional (ou genuíno, como eu gosto de chamar) por outra pessoa quando este cálice interno está cheio, transbordando. Ele fala até sobre o amor de mãe que todos dizem ser incondicional. Mas será que é sempre assim?
Outro dia uma amiga postou em sua página do Facebook  “sou capaz de matar um leão pelo meu filho, espero que ele reconheça isso quando crescer” e a outra amiga que ficou triste quando depois de uma semana na casa dos avós,  o filho não abriu um sorriso quando a viu. Isso é amor incondicional ou mais uma tentativa de preencher o nosso cálice do amor? Eu vejo as pessoas fazendo isso com os filhos, parceiros,  animais de estimação,  carreira, e por aí vai.
E é claro que também estou neste time, principalmente quando o assunto é relação amorosa. Parece que quando estou envolvida com alguém,  eu dou mais amor do que tenho e sinto uma sede insaciável de me sentir preenchida pelo outro. Me apego as mensagens enviadas, demonstrações de carinho e promessas sobre o amanhã. Eu acho que sou louca, mas uma amiga diz que eu sou apenas humana, espero que ela tenha razão.
Hoje pelo menos consigo ter muita consciência do que estou sentindo, e até penso: “lá vem você, com este cálice meio vazio, procurando amor”. E este tipo de tentativa definitivamente não funciona, o outro pode até fazer coisas maravilhosas por você, mas se seu cálice está vazio, a sede de amor do outro é infinita,  e isto  tem o poder de estragar lindas relações.
Nestes meus nove meses completos de viagem estou vivendo um momento especial, com uma pessoa especial. Não poderíamos ser mais diferentes, eu do ocidente, ele do oriente. O encontro deve ter sido aquele tipo de alinhamento raro entre os astros. Nele a Vida me deu a chance de viver momentos incríveis, mas com a condição que eu topasse pensar só no hoje. Resolvi tentar.
Eu pensava que depois de tantas libertações, toda minha saga da questão do cabelo (clique aqui), tanto tempo me virando sozinha por este mundão, o meu cálice do amor deveria estar t.r.a.n.s.b.o.r.d.a.n.do. Doce ilusão. Descobri que se nutrir de amor de dentro para fora não é uma tarefa muito simples (apesar das frase bonitinhas do facebook). Existe todo um sistema complexo de crenças internas que estão em jogo nesta hora. Quanto amor e carinho você recebeu quando criança, aquelas coisas que você ouviu uma vez na vida e podem ter ficado marcado na sua alma. E agora, na fase adulta, todos estes fantasmas continuam a sair do armário e fazer buuuuuú.
Outra descoberta é que não existe aferição melhor para saber como está seu nível de amor próprio do que se relacionar com outra pessoa. Pois quando se está sozinha, tocando sua vida de forma independente, fica muito mais fácil se  iludir que está tudo bem, sob controle (mas tem que existir controle? Arghhhh!!).
Eu não sei se estou passando na prova. Estou me permitindo dar e receber carinho e me lembrar que não preciso ser a mulher independente e autosuficiente o tempo todo no mundo. Que eu posso abaixar um pouco a guarda.
Por outro lado, eu ando com uma enxurrada de dúvidas, medos e inseguranças dentro do peito. Tem aquelas perguntinhas que adoram me rondar:
“E depois?”
“O que é que você está sentindo?”
“Você não vai sofrer?”
“Como vai ser na hora que você tiver que voltar para o Brasil?”
Não tenho respostas para nenhuma delas, mas acho que já cheguei muito longe para deixá-las me intimidar ou paralisar.
Estou tentando exercitar a gratidão de tudo que já me aconteceu  e quando as dúvidas aparecem, pensar: Faça sua parte. Se arrisque,  pois não há prazer sem risco. A vida vai cuidar do resto. E aceitei o que vier, de braços e peito aberto.
Esta é a minha prova dos nove, dos meus nove meses de viagem.

7 Comments O Desvendar do (Auto) Amor – 9 meses

  1. Elaine Aquino 18 de julho de 2016 at 10:45

    Adorei esse texto…..esse cálice é uma loucura amiga, acho que às vezes está seco, outras transbordando, até cai e espirra onde não deveria…..acho que uma confusão rsrsrsrs, ao menos tenho sentido o meu cálice assim, talvez esteja em uma montanha russa, e aí fica difícil mantê-lo num nível que fique equilibrado….adorando !!! Que bom que está se permitindo abrir esse presente que é o momento AGORA !! Não vejo a hora de estar aqui de volta, para filosofarmos por horas sobre tudo isso….Saudades !! Te amo !!

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    1. Camilla Albani 30 de julho de 2016 at 10:37

      obrigada minha amiga. também te amo. muitas saudades!

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  2. Rodrigo 19 de julho de 2016 at 12:44

    Excelente reflexão, Camilla!

    Não sei se isso será tomado como elogio ou ofensa, mas se já não soubesse de partida que a voz era sua, poderia imaginar que fosse uma crônica da Martha Medeiros. 🙂

    Fico muito contente em ler sobre como você vem incorporando a sabedoria que a experiência tem te trazido sempre com uma saudável dose de autocrítica, ceticismo e cinismo (na acepção mais filosófica dessas duas últimas palavras). Do contrário, o próprio aprendizado e “evolução espiritual” só se transformaria em mais uma maneira de tentar preencher o tal cálice que você menciona.

    Parabéns pelos amores externo e interno que você está vivendo. 🙂

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    1. Camilla Albani 30 de julho de 2016 at 11:24

      ahhhh eu achei um elogio!:)
      obrigada! beijos! saudades!

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  3. Maria Laura Cesar 25 de julho de 2016 at 00:11

    “E depois?”
    As consequências das escolhas.
    Quem escolhe por si?
    O oriente dentro de você poderá revelar a porção escondida da metáfora.
    Sempre projetada em realidade.
    Quem transborda, está líquido, como a água que se ajusta pelos diferentes canais.
    Onde é que quero então me solidificar?

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  4. Leli 8 de janeiro de 2017 at 10:04

    Lindo texto
    Amei !

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    1. Camilla Albani 26 de janeiro de 2017 at 17:45

      Obrigada!!!

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