Mochila descansando na Índia

No dia 3 de março, eu postei a seguinte mensagem no Instagram e no Facebook do Asas&Raízes:

“Posso dizer que este é um sonho dentro do sonho. Sempre quis conhecer a Índia, mas sempre tive medo, a gente ouve falar tanta coisa, que é sujo, que a comida dá piriri, que é perigoso para mulher e blá blá blá…. Por outro lado, sou encantada pelas cores, pelas roupas diferentes, pelos templos, por algo que provavelmente eu nunca vi na vida. Quero ver com meus próprios olhos e tirar as minhas conclusões! Juntei os pedaçinhos da coragem, me organizei para fazer a viagem com um grupo e aí vou eu! ”

Eu me lembro como se fosse hoje. Estava tão nervosa que no dia anterior eu tive dor de barriga, dor de estômago e mal dormi. Este que era um lugar até então desconhecido para mim sempre colocava minha curiosidade no mode ON. Na minha fase de planejamento, eu lembro de ter repetido umas dezenas de vezes: “A Índia é o lugar que mais quero ir, mas não sei se tenho coragem, vou decidir no caminho”.

Meus 15 dias de tour foram incríveis, me encantei e me desencantei diversas vezes com a diversidade cultural, extremos de riqueza e pobreza, uma sociedade enraizada no sistema de castas e os ritos religiosos. Mas fui embora com uma percepção que minha viagem foi muito turística. Eu estava num grupo de 10 pessoas e éramos o centro das atenções, o que inibia um pouco a interação com as pessoas locais. Além disso, eu também estava meio receosa com tudo, acho que o meu coração não estava totalmente aberto. Senti que esta primeira viagem serviu para quebrar os paradigmas e preconceitos, e fiquei com a sensação de querer voltar um dia. Sabe-se lá quando.

E não é que agora, já na Europa, onde o plano pós Grécia era explorar países como Croácia, República Checa, Alemanha, Itália, eu resolvo mudar totalmente a rota e pegar um voo da Grécia para a Índia! Como assim??

Já falo de antemão que não foi uma decisão fácil. A Europa é o sonho de quase todo mundo (inclusive meu) e digamos “abrir mão” da Europa para voltar para a Índia cheia de controvérsias fez com que eu queimasse alguns neurônios. Mas o que mandou na minha decisão foram dois fatores principais. Primeiro, um querido amigo indiano me convidou para ficar na casa dele por um tempo, onde eu poderia viver mais a cultura local (o que já está sendo incrível!) e também fazer algumas viagens curtas. Segundo, meu estado físico e emocional. Eu estou cansada de mochilar, porém não sinto que já é a hora de voltar para Brasil, pode ser que esteja próximo mas não já. Eu cheguei a conclusão que seria um desperdício eu gastar em euros, ir para lugares tão sonhados, como a Itália, nesta minha atual disposição. Preferi deixar na lista dos sonhos por mais um tempo.

Uma coisa que aprendi na viagem é que muitas coisas na vida precisam ser amadurecidas, precisam de tempo ao tempo. Correr para dar check in em lugares, tarefas, obrigações, não é mais o caminho que eu escolhi para mim. Quero mais qualidade e menos quantidade em tudo.

Apesar de ter saído da casa dos meus pais com 18 anos e ter uma vida independente no Brasil, vou contar que eu nunca me senti tão dona do meu próprio nariz como agora. Eu não consultei ninguém, não pedi opiniões, eu só olhei para dentro e emiti uma passagem de volta para o outro lado do mundo. Isso é algo novo, pois sempre foi mais confortável olhar para fora, pedir a opinião dos outros. Assim, se qualquer coisa desse errado, ficava mais fácil dividir a responsabilidade. E com este pouquito mais de maturidade, eu consigo entender mais profundamente o poeta alemão Raine Maria Rilker em Cartas a um Jovem Poeta, quando ele escreve assim:

“Por fim, gostaria apenas de aconselhá-lo a passar com serenidade pelo período de seu desenvolvimento. Não há meio pior de atrapalhar esse do que o olhar para fora e esperar que venha de fora uma resposta para questões que apenas seu sentimento íntimo talvez possa responder, na hora mais tranquila. Pois, no fundo, e justamente quanto aos assuntos mais profundos e mais importantes, estamos indizivelmente sozinhos, de modo que muita coisa precisa acontecer para que um de nós seja capaz de aconselhar ou mesmo ajudar o outro, muitos êxitos são necessários, toda uma constelação de acontecimentos tem que se alinhar para que isso dê certo alguma vez.”

Para acabar com o suspense que deixei no final do meu vídeo dos 10 meses, é aqui na Índia que minha mochila está encostada, mais precisamente em Jaipur, a capital do estado do Rajastão. Provavelmente nas próximas semanas eu não terei fotos de lugares paradisíacos para mostrar para vocês, mas tenho certeza que vou ter muita estória para contar. Eu estou há menos de uma semana aqui e já aprendi um monte de coisa. Para começar, aprendi a fazer meu próprio massala chai (estou na curva de aprendizado). Já sei falar algumas coisa bem básicas em Hindi (umas das 17 línguas oficiais da Índia, fora os mais de 1.000 dialetos). Fui jantar na casa de um amigo do amigo com direito a menu local (Dal Bati), comer no chão e com as mãos.  Andei de motoca no meio do buzinaço e embaixo de chuva (estamos no período de monções, chove dia sim e dia sim também!).  E claro, já me irritei algumas vezes de ver como é a vida das mulheres indianas, tema que vai merecer pelo menos um post exclusivo aqui no blog.

Enfim, chegou a hora de parar um pouco e mergulhar numa cultura tão única e diferente da minha. Estou muito feliz e animada por esta nova fase.

Namastê!

9 Comments Mochila descansando na Índia

  1. Daniela 2 de agosto de 2016 at 14:00

    Estou muito feliz por vc viver esse tipo de experiência também. Menos turística e mais real. Vivenciar realmente a cultura de um lugar, ainda mais um lugar tão diferente do nosso!
    Love u!

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  2. Dri Salles 2 de agosto de 2016 at 15:00

    Ca!
    Que demais!!!! Achei a sua decisão incrível e surpreendente! Descansar e Índia podem não fazer muito sentido numa mesma frase, mas olhando bem acho que podem fazer sentido sim!
    Uma coisa que eu queria ter tido na Índia foi um amigo indiano, para me sentir mais a vontade e entender melhor a cultura.. Nós nos blindamos muito e para não cairmos em ciladas e golpes acabamos somente sentindo um pouco da cultura, e tirando as nossas próprias conclusões (e olha que nós viajamos por aí na raça!).
    A Índia é um lugar diferente de todos os outros e sabe que Jaipur é uma das cidades mais bonitas que eu já visitei (aqui vale enxergar a beleza por trás da sujeira!). Tanto eu, quanto o Manu ficamos impressionados com Jaipur, e principalmente como a cidade foi avançada para a época.
    Aproveite sempre! Descanse, recupere o fôlego e continue seguindo seu coração, ele sempre vai te levar para o lugar certo!
    Um beijo grande
    Dri

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  3. Alexandre Bastos 2 de agosto de 2016 at 16:01

    Muito inspirador esse seu post Camila. Aprovei muito esse momento da viagem.

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  4. Jackelene 8 de agosto de 2016 at 17:36

    Fiquei muito emocionada ao ler este post seu, imaginei seu espírito cheio de energia e de certeza do caminho a seguir e compartilhei da sua felicidade em tomar as rédeas do seu destino e ser protagonista de sua própria história, ciente de que os outros não podem jamais sentir o que você sente.

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  5. João Gimenes 22 de agosto de 2016 at 00:28

    Num domingo à noite, já na cama, antes de dormir, navegando despretensiosamente na internet, lembrei do seu blog e vim dar uma olhada. E que sorte (de novo) eu tive. Mais uma aula, uma senhora leitura, na melhor qualidade das palavras, da poesia, da vida, do amor… e de graça! Foi mais um presentão pra gente. Você é demais Camilla. Aproveite tudo nessa super oportunidade que você criou para a sua vida. Namastê!

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  6. Ney Duarte 6 de novembro de 2016 at 12:16

    Olá, td bem ?
    Pelo pouco q li de alguns posts, acho que terão mais , pelo q percebi.
    Acho que sua viagem merece ser publicada, ja pensou num livro ?

    abs

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    1. Camilla Albani 18 de novembro de 2016 at 17:57

      Obrigada Ney! Então, eu ainda não sei…rs…mas quem sabe né? Histórias não vão faltar! Abs

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  7. Catarina Araujo 8 de janeiro de 2017 at 18:17

    Entao Camila, tenho amado ler o que você escreve, acredito que antes mesmo de tanto planejamento voce teve uma coragem incrível, em sair da sua zona de conforto para viver essas viagens.
    Tenho pensado muito em fazer isso, viver, voltar pra dentro de mim e me encontrar, tenho 43 anos sou enfermeira divorciada e com os filhos formando agora, sinto que ainda nao vive, apenas fiquei me dedicando a ser a mãe que eles necessitavam.
    Mas em fim quero ler muito mais sobre suas aventuras e viagens pelo mundo um brande abraço, .

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    1. Camilla Albani 26 de janeiro de 2017 at 17:43

      Obrigada Catarina! Que vc siga seus sonhos. Beijos

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