Jogo do Contente

O meu primeiro livro favorito foi Pollyanna, escrito por Eleanor H. Porter em 1913. O livro conta a estória de uma menina de 11 anos, pobre, órfã de pai e mãe, e que seguiu sua vida utilizando um jogo que seu pai lhe ensinou, o Jogo do Contente.

Este jogo nada mais era do que sempre buscar o lado positivo de todos os acontecimentos. Me lembro de um Natal em que Pollyanna sonhava em ganhar uma boneca e o que ela ganhou da igreja foi um par de muletas. Seu pai disse que ela tinha que ficar feliz com aquele presente, afinal de contas, ela era saudável e não precisava das benditas muletas. Sei que pode parecer bobo e infantil, mas eu adoro o jogo do contente.  Sempre penso nele quando acontece algo de ruim, tento extrair o que aquela situação pode me trazer de positivo. É claro que nem sempre funciona, mas pelo menos eu tento. (minha amiga-irmã-cumadre Andressa até me chamava de Pollyanna quando éramos adolescentes lá no Canal 1)

Semana passada, chego na capital do Cambodia, Phnom Penh, e antes de descer do ônibus, o motorista me alerta para tirar a minha correntinha do pescoço e tomar cuidado com minha bolsa. Já fiquei meio apreensiva, pois até agora não tinha passado em nenhuma cidade em que tenha me sentido insegura. Mas segui o conselho do cambodiano, tirei minha correntinha e coloquei na minha bolsa que carrego com o celular e um trocado.

Na primeira noite, nem quis sair para jantar, estava amedrontada. Mas no dia seguinte, já mais ambientada com a cidade, resolvi ir jantar próximo ao hostel. Mas alguma coisa me disse para dar uma esvaziada na bolsa antes de sair. Tirei o celular (que eu SEMPRE carrego comigo), tirei parte do dinheiro. Cartão e passaporte eu nunca coloco na bolsa…normalmente levo no doleiro na cintura, mas neste dia, deixei tudo no locker.

Na volta, estou quase chegando no hostel, andando pela rua, por que calçadas são quase inexistentes, quando sinto um empurrão. Passou uma motoca bem rápido e bem pertinho de mim, e a menina que estava na garupa, com uma agilidade que nunca vi na vida, cortou a alça da minha bolsa. Não me machuquei, não cheguei a cair, foi só o susto do empurrão e de olhar que estava sem a bolsa.

Emocionalmente, fiquei bem chateada. O Tobi, apelido carinhoso que dei para o meu MEDO, pulou na minha frente com aquele olhar aterrorizante e começou a ladainha na minha cabeça, “não falei que era perigoso esse negócio de viajar o mundo”, “por que você levou a bolsa”, “você tem que cuidar mais da gente” e por aí vai.

Fiz o inventário das minhas perdas, na maioria, de valor sentimental:

  1. Minha carteira de patchwork que ganhei da minha amiga Carol de Porto Alegre
  2. Meu terçinho que ganhei da Renatinha quando ela foi para a Aparecida do Norte
  3. Minha correntinha que não era de ouro, mas o pingente de Nossa Senhora era e eu tinha maior o carinho
  4. Meus fones de ouvido (já substituídos, impossível ficar sem fone, como vou falar com a mamis?!)
  5. Um protetor  labial
  6. Meu batom da MAC que estava no final, mas era o único que eu tinha. Até olhei um novo na MAC de Bangkok, mas acabei comprando um na farmácia por 4 dólares. MAC não me pertence mais L
  7. 40 USD (nunca ando com tanto dinheiro na carteira, mas justo neste dia tinha trocado uma nota de 100)

Assim que consegui fazer o Tobi calar a boca, pratiquei o meu famoso jogo do contente. Agradeci por não ter me machucado e não ter perdido nem meu passaporte, nem meu celular, nem meus cartões, pois aí sim eu estaria em apuros. Senti uma gratidão imensa pela minha voz interior que falou para eu dar uma limpada na minha bolsa antes de sair e também gratidão pela minha capacidade de ouvi-la.

E assim, nós continuamos. Ainda não consegui enfiar o Tobi novamente na mochila, ele está andando de um lado e meu Anjo de Guarda do outro. E  depois de pegar 2 metros em Bangkok + 12 hs de trem + 2 horas de buzão + 40 minutos de Ferry + Mini Van até Hostel, chegamos os três juntinhos em Koh Samui, onde pretendemos sossegar por “uns par de dia”.

10 Comments Jogo do Contente

  1. Andressa (amiga-irma-cumadre do canal 1) 11 de fevereiro de 2016 at 07:59

    Que bom que está bem…Que susto, mas passou, e vejo que pollyanna continua firme e forte. Daqui, na torcida sempre por vc…juntas em pensamento, na energia positiva enviada pra vc. Saudades

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    1. Camilla Albani 18 de fevereiro de 2016 at 02:50

      obrigada minha amiga irmã cumadre do cana 1! heheheh bjs

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  2. Karen 11 de fevereiro de 2016 at 09:01

    E viva a nossa voz interior!!
    Que bom que está bem!
    Bjos

    Reply
    1. Camilla Albani 18 de fevereiro de 2016 at 02:49

      viva! beijos!

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  3. Elaine Aquino 11 de fevereiro de 2016 at 11:13

    Amiga, vamos Pollyannar sempre !!! Com positividade às vezes travamos, imagina sem…….fique bem, guarda o Tobi na mochila rsrs, sempre na torcida por você !! Muita luzzz, beijokas !!

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    1. Camilla Albani 18 de fevereiro de 2016 at 02:49

      olha acontece cada coisa nesta trip, que nunca imaginei que Pollyanna seria tão usada! O importante que estamos bem entre mortos e feridos 🙂 beijokas (Tobi sossegou total aqui na praia…espertinho ele)

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  4. Juliana Matavelli 11 de fevereiro de 2016 at 19:51

    Este livro é fantástico! Também lembro muito dele, principalmente nas horas que dá uma amargada na boca com algumas surpresas da vida. No fundo, a doçura de extrair o melhor de cada situação é que dá gosto em viver cada experiência que nos chega 🙂 mais um lindo conto!

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    1. Camilla Albani 18 de fevereiro de 2016 at 02:48

      obrigada Jú querida! beijos

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  5. Jessica Santos 15 de fevereiro de 2016 at 16:54

    Olá,

    Gostei muito do seu blog. Qro te parabenizar por toda essa coragem que há dentro de você. Não te conheço mas já te admiro por vários motivos. Irei te seguir. Aproveita muito sua trip e conte nos os detalhes. Beijos

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    1. Camilla Albani 18 de fevereiro de 2016 at 02:47

      Obrigada Jéssica! Feliz em ter vc junto aqui nesta jornada! Beijos

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